O governo do Distrito Federal  (PT) sancionou uma lei que proíbe a fabricação e comercialização de armas de brinquedo em seu território. A restrição também vale para brinquedos que emitem sons, disparam bolas, espumas, luz, lasers e assemelhados.

O fascismo que assola este país não tem limites. Os tiranos não podem legislar sobre a criatividade das crianças (mas sabemos que essa ideologia pretende controlar até o pensamento dos homens livres) e não podem proibir tudo (que lápis, canetas e pedaços de madeira sejam transformados em revólveres imaginários), senão chegariam ao extremo, aprovando uma lei obrigando a amputação do polegar e do indicador das crianças. Nem assim conseguiriam, pois imaginariam armas de outra forma.

No entanto, esse processo de acovardamento e emasculação da população não é um “privilégio” somente nosso. Em seu artigo, Olavo de Carvalho ironiza absurdos que ocorrem nos EUA e aqui.

 Abaixo o link de uma enquete sobre o assunto:

A decisão do governo do Distrito Federal de proibir a venda de armas de brinquedo é correta?

Vote no link: http://polls.folha.com.br/poll/1327301

A seguir, excelente artigo de Olavo de Carvalho sobre esse absurdo.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/130127dc.html

Desarmando as criancinhas    

Olavo de Carvalho     Diário do Comércio, 27 de janeiro de 2013

Carmel, Pennsylvania, uma menininha de cinco anos foi suspensa  da escola por ter ameaçado atirar na colega com um revólver de plástico  cor-de-rosa que dispara… bolinhas de sabão.

Na iminência de passar das palavras aos atos, a perigosa criaturinha foi providencialmente desarmada pelas autoridades competentes  e submetida à penalidade prevista no sábio regulamento escolar.

É a prova de que os EUA melhor fariam se proibissem logo todos  os brinquedos em forma de armas, quer disparem bolinhas de sabão, tufos  de pelúcia ou bilhetinhos de “Eu te amo”, e obrigassem todas as crianças  a brincar de casinha, independentemente dos sexos, para que não  cultivem o desejo maligno de algum dia atirar num bandido antes que o  bandido atire nelas. 

Mas a grande nação do norte não atingiu ainda aquele estágio  superior de civilização que permitiu ao nosso País, mediante essa medida profilática e a drástica repressão do comércio de armas entre adultos, ter apenas 4,5 vezes mais assassinatos anuais a bala do que a truculenta sociedade gringa, embora tenha também cem milhões de habitantes a menos e trinta vezes menos armas legais em circulação.

Eu mesmo sou  exemplo vivo do perigo extremo de deixar as crianças brincarem com armas. Passei a infância tentando ser Roy Rogers ou Hopalong Cassidy e, ao crescer, tornei-me um assassino intelectual de  idiotas, um dano que poderia ter sido evitado se no meu tempo, em vez de uma indecente facilidade de acesso a revólveres e espingardas de plástico, existissem os Teletubbies, os Menudos e sr. Luiz Mott. Estes, infelizmente, só apareceram por volta da década de 90 do século XX, quando   minha alma já  estava  corrompida.

Mas às vezes as criancinhas, essa parte especialmente temível da espécie humana, frustram as melhores intenções dos desarmamentistas e  descobrem meios incomuns e patológicos de se dedicar à prática da violência mortífera. Numa escola de Maryland, dois meninos sofreram a mesma punição da garotinha da Pennsilvanya porque, sem armas de plástico ou de madeira ao seu alcance, mas empenhados assim mesmo em brincar de polícia e ladrão, trocavam tiros com pistolas imaginárias formadas com o  indicador e o polegar, este imitando o cão do revólver, aquele o cano. Em situação tão inusitada, o educador, não podendo apreender equipamentos bélicos inexistentes nem cortar os dedinhos assassinos, só tem um caminho a seguir: investigar cientificamente de onde os meninos tiraram a ideia extravagante de que polícias e ladrões troquem tiros, e em seguida submetê-los a rigoroso treinamento de sensitividade para que entendam que essas duas classes de profissionais jamais se entregam a semelhante exercício.

Aí novamente os nossos vizinhos do norte muito teriam a aprender com a experiência brasileira. Por aqui não tiramos as armas somente das mãos das crianças, mas da sua mente, dirigindo sua atenção desde a mais tenra idade para práticas mais saudáveis como a masturbação solitária ou coletiva e a interbolinação de ambos os sexos.

Infelizmente, a dureza implacável do universo reacionário tem impedido que tão salutar medida surta os efeitos esperados. As forças do além coligam-se para frustrar as iniciativas mais belas dos nossos governantes iluminados e intelectuais progressistas.

Numa verdadeira conspiração voltada a desmoralizar em especial  a nossa mídia, tão merecedora do nosso respeito e consideração, que com desvelo maternal nos adverte diariamente para a crescente epidemia de violência assassina nos EUA, o número total de homicídios naquele país vem caindo despudoradamente nas últimas três décadas, passando de 9,8 por cem mil habitantes em 1981 para menos da metade (4,7) em 2011, malgrado o aumento prodigioso do número de armas legais em posse da população civil.

No nosso País, ao contrário, com um controle de armas cada vez mais severo, a proibição total de brinquedos em forma de armas e as sucessivas campanhas de entregas voluntárias de revólveres, pistolas, rifles e espingardas ao governo, o número de homicídios duplicou no mesmo período, chegando a uns 36 por cem mil habitantes em 2010. Oh, mundo injusto!

Ainda assim, continuam existindo na república americana mentes lúcidas e corajosas, como a do presidente Barack Hussein Obama, que prometem eliminar, mediante a proibição das armas, os oito mil homicídios anuais que ali se verificam. É verdade que, no mesmo período de um ano, segundo as estatísticas oficiais, quatrocentos mil cidadãos e cidadãs dos EUA salvam suas vidas reagindo a bala contra serial killers, assaltantes, estupradores etc. Desgraçadamente as almas de pedra dos reacionários e sócios da National Rifle Association ainda se recusam a entender que para impedir oito mil assassinatos vale a pena fomentar outros 392 mil. 

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 A seguir, outro excelente artigo da psicóloga Ana Mercês Bahia Bock publicado no Jornal o Estado de São Paulo.

http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,tiro-nagua,1079860,0.htm

Tiro n’àgua

Lei que proíbe armas de brinquedo não acerta no alvo correto: a questão da agressividade e da desvalorização do outro em nossa sociedade.

Estadão, 28 de setembro de 2013 | 14h 57

Ana Mercês Bahia Bock

Quando nascemos, nascemos candidatos à humanidade, e é o contato com objetos da cultura, mediado pelos adultos que nos oferecem as significações, que nos humaniza.

Assim, quando nos preocupamos com as armas de brinquedo, devemos lembrar que a questão da socialização/humanização não está somente nos objetos, mas também na mediação produzida pelo adulto, ou seja, nas significações que são transmitidas nas relações sociais. Não é o simples contato material com um livro que nos faz leitores ou inteligentes, mas sim a convivência com eles, tratados de modo positivo e valorizado, sendo objeto de conversa e troca, enfim, livros que circulam e convivem conosco material e simbolicamente. Da mesma forma, não é o mero contato com armas de brinquedo que vai gerar agressividade ou violência.

As coisas não se passam assim tão direta e cruamente. Relacionamo-nos, ao mesmo tempo, com muitos objetos e com muitos adultos. Significações, valores, uso dos objetos, situações, cenários, vivências, sentidos subjetivos constituídos, tudo isso se relaciona no processo de humanização/socialização de cada um. Com isso, estamos querendo defender a ideia de que não se pode tomar a questão do uso das armas de brinquedo de forma simplificada, ou seja, tomá-las como o aspecto fundamental e único para compreender a agressividade para com o outro. Seria naturalizar a questão, absolutizando apenas um aspecto do problema.

O ponto crucial nessa discussão parece ser a agressividade que vemos acontecer nas relações. O outro é nosso parceiro social, mas não tem sido visto assim.
Tem sido desvalorizado, podendo mesmo receber um tiro de brincadeira ou não. É com essa visão do outro que deveríamos nos preocupar.

Mas e as armas de brinquedo que se pareçam com as armas de verdade? Deve-se permitir ou não sua venda? A questão é boa, pois pode nos colocar frente ao
problema da violência e da desvalorização do outro, em curso em nossa sociedade.

O que é mais nocivo na desvalorização do outro: ter uma arma de brinquedo ou ter uma boneca loira em um país em que mais de 50% das pessoas são negras? Brincar apenas com objetos fúteis da cultura ou ter carrinhos e monstros  que batem e destroem? Jogar games violentos e assistir a filmes de heróis que, em defesa de uma causa justa, destroem e matam ou assistir aos nossos telejornais no seu empreendimento bem-sucedido de banalizar a violência, desrespeitando os direitos das pessoas envolvidas?

Ou seja, a questão da agressividade e da desvalorização do outro é que tem de ser pensada. Devemos enfrentar o debate sobre a agressividade em nosso meio,
sem tomá-la como um aspecto natural do humano. Devemos nos perguntar, cotidianamente: onde a temos construído?

Em muitas ocasiões e lugares. No trânsito, por exemplo: carros dirigidos por pessoas que não vemos, dados os vidros escuros; estacionamentos onde disputamos uma vaga; raiva dos ônibus que cruzam em nossa frente sem nos darmos conta que somos apenas uma pessoa e ali há um coletivo; na forma ostensiva da polícia, impondo poder pelo medo; na humilhação de parte de nossa população, parte essa que, muitas vezes, está em nossas casas trabalhando; nas relações de trabalho onde impera a ideia do ganhar ou morrer; nos corredores dos hospitais, onde pessoas morrem sem socorro. Vidas que valem mais que outras.

Cabe ainda em nossa reflexão pensar que as pessoas que cometem atos violentos também são humanizadas nesse mesmo espaço social. Nós, muitas vezes, preferimos vê-los como alguém que não é humano. Jogamos para baixo do tapete a discussão essencial: quem é o outro para nós?

Tudo isso acompanha o uso da arma de brinquedo, assim como o uso das inocentes panelinhas nas quais se brinca de fazer papinha para as bonecas. Todos esses elementos convivem na subjetividade de nossas crianças, que estão se humanizando.

A arma de brinquedo pode ser um bom instrumento para ensinar, a nossas crianças, o valor da existência do outro. Muitas vezes, pode ser com uma arma que a criança aprende que não se pode matar, ou mesmo aprende o efeito do uso da arma. Mas, se não vamos ensinar as significações das coisas (da importância e valor do outro, nosso parceiro social), é melhor proibirmos as armas. É sempre bom lembrar que não foram as armas que produziram humanos violentos, mas ao contrário: primeiro planejamos destruir o outro e aí inventamos as armas.

Isso é importante porque, ao retirarmos as armas e não relacionarmos a ação a um conjunto de preocupações e estratégias, inventaremos outras armas.

As crianças farão seus revólveres com madeira e sucata se eles não estiverem nas lojas – talvez um bom começo, que propicia uma relação com o objeto mais reflexiva. Temos, como sociedade, nos empenhado tanto na defesa das árvores, da água, do urso panda, do mico-leão-dourado e das baleias.

O que acontece? Desistimos das criaturas de nosso tempo? Mãos ao alto: um alerta para todos. 

*Ana Mercês Bahia Bock é psicóloga social e educacional, professora na PUC-SP e diretora do Instituto Silvia Lane de Psicologia e Compromisso Social

 

 

Excelente reportagem da revista Veja mostra que a patrulha ideológica do politicamente correto não consegue atingir as crianças e que brincar com armas de brinquedo é saudável.

Ítegra no link abaixo

Enviem comentários para veja@abril.com.br ou no final da reportagem no site da Veja.

José Luiz de Sanctis

Coord. Nacional

http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/de-volta-a-moda-arma-de-brinquedo-nao-deve-preocupar-os-pais

Educação – Família – 14/10/2012 – 10:02

De volta à moda, arma de brinquedo não deve preocupar os pais

Os lançadores de projéteis e dardos de espuma são a nova onda dos meninos. Mas não se preocupe se seu filho pedir uma dessas armas de presente – VEJA desta semana revela que elas não transformam crianças em bandidos potenciais, ao contrário.

Gabriela Carelli
COMPETIÇÃO SAUDÁVEL - O mineiro Henrique Lopes, de 9 anos, de Belo Horizonte, ganhou seu primeiro atirador de dardos de espuma em 2010. Ele gosta de dividir os amigos em times e disputar guerrinhas. A mãe, a relações-públicas Flávia, acompanha tudo de perto. “É uma brincadeira saudável e tranquila. Não vai ser uma arma de brinquedo colorida e lúdica que mudará o comportamento do meu filho”, diz ela. “O jogo ‘rouba-bandeira’, por exemplo, tem como meta um time tomar a bandeira do outro. Ora, essa brincadeira incentiva o roubo? Claro que não.”                          COMPETIÇÃO SAUDÁVEL – O mineiro Henrique Lopes, de 9 anos, de Belo Horizonte, ganhou seu primeiro atirador de dardos de espuma em 2010. Ele gosta de dividir os amigos em times e disputar guerrinhas. A mãe, a relações-públicas Flávia, acompanha tudo de perto. “É uma brincadeira saudável e tranquila. Não vai ser uma arma de brinquedo colorida e lúdica que mudará o comportamento do meu filho”, diz ela. “O jogo ‘rouba-bandeira’, por exemplo, tem como meta um time tomar a bandeira do outro. Ora, essa brincadeira incentiva o roubo? Claro que não.”                                      (Darcio Tutak)

O pedido brota implacável, em forma de súplica, muxoxo e sorriso, choro talvez: “Pai, mãe, quero um desses, o meu amigo tem!”. O mais recente fenômeno infantil, no topo da lista de desejos de brinquedos de nove entre dez meninos (e de algumas meninas também), não é tão novo assim. É uma arma de mentirinha, daquelas que os garotos adoram empunhar quando se transportam para o mundo da fantasia e assumem o papel do mocinho ou do vilão, dos alemães e seus canhões, em histórias cheias de heróis, princesas a ser resgatadas, dragões e monstros espaciais. Ou simplesmente querem atormentar e acertar em cheio o irmão mais novo, ou o priminho abusado. A arma em questão é um dos trinta modelos de lançadores de projéteis e dardos de espuma fabricados pela americana Hasbro, onipresentes também no Brasil. A empresa não revela quantas unidades vendeu desde que os artefatos caíram no gosto de crianças de 5 a 12 anos. O faturamento global do produto, de 410 milhões de dólares em 2011, autoriza um cálculo: se os ganhos da fábrica de brinquedos dependessem exclusivamente da venda dos modelos mais caros, em torno de 200 dólares, teria sido comercializado, em doze meses, um arsenal suficiente para armar 2 milhões de guris, o equivalente a uma vez e meia o contingente do Exército, da Marinha e da Aeronáutica dos Estados Unidos juntos.

Os lançadores – modo politicamente correto e mais moderno de chamar as armas – nem de longe lembram os revólveres de metal que fizeram a alegria da meninada do passado, alimentados por espoleta. São coloridos, modernosos e foram desenhados para não se parecer em nada com algo bélico, tanto na forma quanto no conceito. Têm mecanismos de ar comprimido, baterias, e podem lançar até três dardos por segundo. Tudo sem ferir ninguém. No entanto, em um mundo onde as ideias de correção reinam quase absolutas e as crianças não podem mais atirar o pau no gato, porque isso não se faz (como prega a versão certinha do clássico do cancioneiro infantil Atirei o Pau no Gato), o grau de periculosidade de um brinquedo importa menos do que as atitudes que ele seria capaz de incitar. Ter filho em casa mirando um alvo qualquer com tamanha monstruosidade em mãos é percebido pela patrulha da moral e dos bons costumes como irresponsabilidade de pais ausentes, egoístas, descompromissados com o futuro da cria e, claro, como não poderia deixar de ser, do planeta. Afinal, dita o senso comum, arma é arma; e violência gera violência.

Todo chavão contém alguma dose de verdade, mas explicar ou justificar a agressividade crescente de crianças e jovens levando-se em conta apenas os estímulos externos aos quais eles são submetidos, sejam brincadeiras de guerra, videogames ou os divertidíssimos filmes de super-heróis da Marvel, é uma maneira simplista de olhar um tema complexo, além de retrocesso ao período jurássico da ciência do comportamento. No século XVII, o filósofo inglês John Locke, ao refletir sobre a mente humana, comparou-a a uma folha em branco, preenchida e moldada ao longo da vida por meio das experiências, da cultura e da educação – os tijolos da personalidade. Até hoje, essa construção intelectual de Locke vigora no Ocidente, apesar de ter sido gravemente ferida pela publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, em 1859, quando se deu a revelação das bases da transmissão de características por hereditariedade. Com a descoberta da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick, em 1953, um século depois, e a divulgação do Projeto Genoma Humano, em 2000, a doutrina elaborada por Locke perdeu, definitivamente, o espaço que conquistara. E abriram-se as portas para uma compreensão inédita das raízes biológicas do comportamento humano. Foi possível, a partir de então, identificar genes que tornam as pessoas mais vulneráveis a desenvolver transtornos psíquicos, atitudes antissociais e vícios, por exemplo. E se o gosto masculino (e pueril) por armas de brinquedo também residir aí, na genética, e não no que apreendemos durante a infância?

Jefferson Bernardes

MUDANÇA DE OPINIÃO - Thays Fürst, educadora de formação cristã, sempre foi contra o uso de armas de brinquedo, por considerá-las um atalho para a violência. Depois de ler um livro que apontava o natural interesse dos meninos por jogos que envolvem conquista e poder, mudou de ideia. Hoje, Thomas, de 13 anos (na foto), faz batalhas homéricas de brincadeirinha com o irmão Lukas, de 12 anos, no condomínio onde vivem, em Porto Alegre. “Proibir é pior”, diz a mãe. “Basta estabelecermos regras de horários, como acontece com as outras diversões, e não há mal algum.”MUDANÇA DE OPINIÃO – Thays Fürst, educadora de formação cristã, sempre foi contra o uso de armas de brinquedo, por considerá-las um atalho para a violência. Depois de ler um livro que apontava o natural interesse dos meninos por jogos que envolvem conquista e poder, mudou de ideia. Hoje, Thomas, de 13 anos (na foto), faz batalhas homéricas de brincadeirinha com o irmão Lukas, de 12 anos, no condomínio onde vivem, em Porto Alegre. “Proibir é pior”, diz a mãe. “Basta estabelecermos regras de horários, como acontece com as outras diversões, e não há mal algum.”

Estudos com gêmeos univitelinos, que compartilham a mesma configuração genética, têm permitido delinear o papel relativo dos genes e do ambiente no desenvolvimento de características da personalidade. Com esse objetivo, psicólogos da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, acompanham há duas décadas três centenas deles, separados da família no nascimento. Os achados da equipe surpreendem ao mostrar que comportamentos antes percebidos como fruto do aprendizado têm forte influência biológica. Introversão ou extroversão, neurose ou estabilidade, abertura ou não a experiências, capacidade de atenção ou dispersão são características 50% herdadas dos pais. A modulação dos comportamentos agressivos dependeria em 80% da genética, e o restante resultaria da educação e das experiências pessoais de cada um. Apesar de pouco conclusivos, e com resultados que podem soar como um estímulo ao preconceito, como a constatação de que parte da inteligência é mesmo coisa de família, os estudos de gêmeos foram um divisor de águas na infindável batalha científica e filosófica sobre o que pesa mais na formação do caráter, o gene ou a cultura. Nem uma coisa só nem outra. Atribuir tudo à herança, na magistral definição do paleontólogo americano Stephen Jay Gould, darwinista de escola, é “reducionismo genético”. Também não somos apenas um produto cultural. É uma condição que agora começa a ser revelada à luz das moléculas pela epigenética, a vertente da biologia escondida atrás desse palavrão que estuda a ativação ou não de genes por meio dos fatores externos – no caso da violência, um episódio real, traumático, como um assalto, ou, por que não?, uma batalha inspirada nos cavaleiros jedis de Guerra nas Estrelas.

Brincadeiras com armas existem desde sempre. Estudos antropológicos mostraram que, tanto em sociedades tribais quanto em países de Primeiro Mundo, nas mais variadas culturas, as crianças sempre enfrentaram e derrotaram oponentes enormes e furiosos com seus superpoderes em duelos imaginários do bem contra o mal. “As narrativas são uma espécie de treinamento para lidar com as vicissitudes da vida”, escreveu o psicólogo americano Jerome Bruner, da Universidade Harvard, um dos mais notáveis do século XX. Brincar com armas, afirmam os estudiosos do universo infantil, é uma forma de as crianças se sentirem fortes e confiantes para enfrentar os desafios reais e as sucessivas frustrações do longo e penoso crescimento físico e emocional. “A infância não é o período tranquilo e prazeroso que nós, adultos, gostamos de achar que é”, diz o psicólogo americano Gerard Jones no livro Brincando de Matar Monstros. “Muitas crianças são submetidas a episódios dolorosos, como morte dos pais, divórcio, doenças, mas mesmo aquelas que vivem sem atravessar essas experiências ruins deparam todos os dias com a condição de serem pequenas e sem poder.” As revelações sobre a influência da genética no comportamento e uma série de outros achados científicos, aliados ao bom-senso, têm alterado de forma positiva a maneira pela qual as pessoas enxergam o mundo. Um bom assunto para os pais discutirem quando os monstrinhos – ou seriam anjos? – estiverem dormindo. E, afinal de contas, é tudo brincadeira. Um bom caminho é reagir como o deprimido Woody, o personagem de Toy Story, que diante das diatribes do fortão eletrônico Buzz Lightyear, dono de uma incrível arma a laser, o repreende, com medo de perder seu posto de queridinho do baú: “Você é apenas um brinquedo, não é real”.

Com reportagem de André Eler, Marcelo Sperandio e Simone Costa    

 

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